03 abril 2010

De um Amor Inconstante

Se a distância que separa teus lábios dos meus valesse o fim de minha solidão, talvez sonhar fosse uma tarefa tristemente insana, comparada à possibilidade de tê-la e amá-la.


Pois sim, os meus olhos procurando os seus, em mais profunda agonia, querendo encontrar e abraçar e brilhar no brilho do seu sorriso e no encanto das tuas palavras. E não encontrando nada, chorando pétalas de rosa e soluçando cartas de paixão.


Afinal, eu te amei com a imensidão de um céu no fim da tarde, com a cumplicidade enamorada dos tolos, como a aurora beijando o crepúsculo, os pássaros voando para seus ninhos. Uma criança perdida buscando um abrigo.


Eu te amei. E repetiria a façanha todas as manhãs e noites. Durante a madrugada e nas tardes sufocantes dos verões de janeiro. E se gritassem: “Deixa de ser bobo, essa loucura não te leva a nada!” Eu gritaria em resposta que amor não é loucura, e minha busca não é errante, é incerta, ligeiramente arriscada. Porque no fundo sei que ponho em jogo sua amizade. Sua confiança. Sua ternura. Mas, desistir novamente... Seria covardia.


Por anos meu silêncio acompanhou minha alma trépida, amando-te também, sem dizer verso, sem cantar rima ou estender elogios.


Fui escrevendo nas areias da praia toda a minha angustia. E, quando as ondas do mar, em fúria, apagaram minhas palavras, ainda havia dor em meu peito e apego em minhas mãos.


Não fui capaz de te esquecer. Pensei em morrer, mas a morte seria o fim de meus dias e o começo de novas batalhas, nas quais eu estaria longe do seu perfume doce. Do seu carinho tranquilo. Da sua risada envergonhada. Eu ficaria longe demais de você, e não há suicídio pior que esse.


Se, de uma nuvem nublada um anjo sentenciou: “Sofra as dores do amor”, como recusar tal fardo? Como negar o que sinto, sem dizer quem amo? Sem afligir-me dos pés à cabeça?


Eu sou quem pega os restos de afeição que você dedica para os outros. Eu sou quem vigia o teu sono, enquanto os demais tentam perturbá-la. Eu sou aquele que te espera e teme continuar esperando. Eu sou o sujeito, que escondido nas cortinas desse enorme palco, dedica a própria vida em um total e contraproducente amor. Eu sou quem não deveria ser, mas continuarei sendo, enquanto continuar desejando-a.

O único problema é que seus lábios estão distantes demais dos meus. E com isso...




Minha solidão não tem fim.

Um comentário: