19 janeiro 2012

Saudosas Putas de Janeiro

Toda noite ele tomava uma xícara de café
Antes de dormir.
-Seus olhos gritavam o verão lá fora
E o verão gritava o mesmo que os olhos:

Pleonasmo.

Não que fosse errado matar-se em nome de outro suicida
Não que fosse divino cantar o pecado da luxúria.
Entretanto, ele sentia medo, e seu estômago arrulhava
Feito pomba, voando de si para o fim.
Talvez, à noite, sua avó aparecesse
Dando conselhos de Madre Superiora.
Ou seus pais o censurassem.

A solidão de toda uma catedral pesava.
O travesseiro menstruava as dores todas.
O colchão abria-se em lençóis egípcios.

-Em estado faraônico, urrava.

Enfim, as Saudosas Putas de Janeiro
(putas de um ano inteiro)
Entregavam-se aos prazeres cariocas.
Elas eram o problema:
Eram putas enfisemas, cancerígenas.
Putas mulheres, que se faziam
Muito mais mulheres
Quando não chamadas de putas.

Pois que ele escutava vindo delas,
Sussurrava ao lado delas
Sussurros de uma Paris Enlouquecida.

-O riso,
O ritmo,
A rima.

-A rara intimidade que surgia entre eles...

E todas as noites, ele tomava sua xícara de café:
Seus olhos não pregavam.
Os gritos continuavam.
Os Faraós o abraçavam.

As putas mulheres (intimamente preferidas),
(intimamente apaixonadas),
(aquelas das risadas).
Elas eram as Saudosas Putas de Janeiro
(putas de um ano inteiro)
-Que se acabavam em luxúria...

...E partiam.