24 novembro 2010

Distante

Feito sopro, partiu voando.
Despido de pudores, sumiu entre nuvens e querubins,
Colecionando olhares curiosos
Dos desatentos seres mortais
Que, esperançosos, pediam socorro.

E recebiam maldade.

Ele, sem nome ou descrição,
Pedia, entre estrelas e constelações,
Um sempre vivo gosto de viver.
Já que vida é uma questão metafísica,
Explicada pelos metafilósofos, que na metalingüística
Encontravam respostas.

Mas ele nunca gostou de metas.
Preferiu, desde criança, as aventuras do invisível.
Poetazinho de nada, sujo de lama,
Via brilho na desgraça mundana das palavras simples.

Dizia-se socialista.

“Aos ricos devemos tirar cifras,
Aos pobres, dar carinho”

E a mim, um pouco mais de amor,
Constantemente amor.
Uma entrega insaciável de paixões carnavalescas.
Com cores e deslumbres diferentes.
No abre-alas, as orgias da paz.
Na bateria, o anseio sorridente.
No grand finale, as sobras de alegria
Despejadas em jarras douradas.

Muito carnaval!
Pouca infidelidade!

Ele foi embora mesmo assim.
E não há quem mude tal fato.
Ele deixou de lado seu ideal.
Tornou-se indigente no caleidoscópico
Existencialismo fútil.

Sua presença foi dita desnecessária.
Portanto, desapareceu sem deixar vestígios.

O anárquico idealista esqueceu-se
De como deveria amar.
Deprimido, largou tinta e pena,
Papel, relógio, calendário e roupa velha.
Colocou seu coração num envelope
Com destinatário.

Mas a entrega não aconteceu.

Na infinidade da censura,
Deparou-se com a hipocrisia dos leigos.
Achou graça disso, brincou.
Mas, por dentro, chorava a insanidade
Dos loucos bêbados.

Bêbados trépidos e...
...Circenses.

A última criatura que o viu
Foi a Lua.
Contam que seu rosto estava vermelho,
Seus olhos inchados.
Lágrimas escorriam por entre as bordas
De solicitude que sobressaiam de seu sorriso
Infeliz.

Talvez paixão.
Talvez fim.

E ela lhe disse, do alto de sua prateada
Sabedoria milenar, com todas as palavras:

“Vá com Deus...”