12 julho 2011

Condessa

Ah, Condessa,
Por onde andam seus olhos azuis,
Seu sorriso inquieto?
E os seus vestidos,
Aqueles com rendinhas,
Babados, estampas,
Por onde andam?


Suas pernas brancas, alvas,
Descobertas debaixo do lençol,
Descobertas por um navegador.
Os brincos, as pérolas,
Jogados no chão,
Somados a nomes,
Palavras, pudores.


Exceto títulos.


Para onde foi, Condessa?
Sumiu em uma terça-feira
Britânica e chuvosa,
Deixou apenas as promessas,
Eu as recolhi e guardei
Na mesma caixa na qual
Guardo suas cartas.


Suas letras condensadas
Nos papéis envelhecidos.
O seu batom vermelho
Marcado em um guardanapo,
O mesmo batom vermelho que
Marcava em meu pescoço
A sua presença constante.


Sinto sua falta.


Escuta o que eu digo!
Escuta o que eu declamo!
Escuta o que eu grito!
Pois minha voz, sozinha,
Tenta ultrapassar o som
Dos bailes de época
E da hipocrisia calada.


O que faço sem
Sua nobreza devassa?
Sem seus apegos sutis, fúteis,
E os apelos, as risadas,
Os brindes e champanhes?
O que será de mim agora
Que nem tudo são festa e poesia?


Estou pobre e sujo.


Por que, Condessa, por quê?
As honrarias e tradições
Que a perseguem são mais importantes
Que eu?
Onde está sua fineza e educação?
Onde está sua destreza, sua beleza?
As suas armadilhas, onde estão?


Onde mora, Condessa?
Casa, apartamento ou favela?
Ainda freqüenta as óperas?
Eu costumava esperá-la
Na frente do teatro nas noites de balé.
Eu andava a brilho e a cobre,
Respirava literatura e jantava caviar.


E para onde foram os brilhos, Condessa?


Para onde foi a nossa paixão,
Que durou cem anos e
Cem notas de cem reais!
Uma paixão que viveu
À custa das malditas madrepérolas
E esmeraldas!
Eu continuo pobre, sabia?


Sabia que ainda não aprendi
A dar nó em gravata,
Que envelheço gradativamente,
Os rins param, o pulmão falha,
As córneas embranquecem.
Sinto-me defeituoso e senil.
Por pouco não me sinto morto.


Porém, Condessa,
O que mais dói confessar,
Por mais que não deva,
O que mais me machuca e consome:
Apesar dos pesares,
Das tempestades,
Das aparências e negligências...


...Eu ainda a amo, Condessa.

Um comentário:

  1. Quem me dera te ter só um pouquinho como a dona dessa linda inspiração sua teve...

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