02 janeiro 2010

Válvula de Escape


Pungente.

Dormente.

Insaciável.

Uma dor que corrói e vai rasgando minha racionalidade. Uma dúvida suspensa em uma névoa de memórias impróprias para o momento.

Sinto-me... Confuso. Até que ponto alguém é capaz de inventar e sustentar uma mentira? Por que tal atitude? A verdade dói tanto assim? Ou seria a dor da ilusão que causa o prazer do ato?

É tão difícil notar que as coisas fluem, as pessoas morrem e o que acontece tem, necessariamente, que acontecer?

Ainda estou confuso. E, provavelmente continuarei assim. Simplesmente confuso por mentir demais e sentir o peso da realidade. Afinal, minha mentira foi feita em cima de um mundo de promessas: promessa de não sofrer, de não se magoar, de não matar ou mesmo morrer, de aproveitar. A promessa de pulsar um coração enquanto houvesse fôlego de vida. E essa teoria tão comunista durou um bom tempo. Sei que não foi fácil no começo, mas quando se pega o jeito e acordar todas as manhãs não se torna um árduo inconveniente... Tudo funciona. Como se a invenção fosse a verdade nua e crua.
Como se não pudesse existir outra resposta às minhas perguntas.

Outra solução para os meus problemas.

Porém há um martelo em minha cabeça, que não pára de bater na minha consciência. E ela me disse a pouco que não suportará a pressão por muito mais tempo. Logo, eu irei ceder aos fatos. Logo, aquela ferida tão dolorida irá ficar exposta e será cutucada por curiosos, irá aumentar e... Romper, explodir.

Existir. Logo, a ferida irá existir novamente.

Não sei se estou pronto para tanto. Nem sei ao certo se estou pronto para alguma coisa que não o esquecimento.

Por que todo o drama?

Porque dói.

E eu estou cansado desse espetáculo. É mais fácil admitir, eu sei. Haverá uma avalanche de conseqüências e incertezas, contudo, o pesar terá sumido. Talvez o medo também. Mas eu não posso abrir mão dessa fantasia, dessa idéia tão vívida e pura e... Aconchegante. Por tempos mentir à mim mesmo foi a única solução plausível. E agora, parece uma covardia me esconder atrás de panos e palavras fracassadas.

Parabéns, comecei o ano bem.

Mas, o que fica perturbando o meu bom senso é: até quando vou fingir e mascarar meus sentimentos, meus gestos e minha vida? Até quando vou atuar como bom samaritano? Até quando o medo de estragar as coisas e jogar tudo no ralo vai afugentar minha coragem?

Até quando vou fugir de mim, negando as explicações necessárias, lutando para não me encarar e ver meus olhos de reprovação?

E até quando eu vou aguentar não ver os seus olhos nos meus?

Isso somente o tempo e as mentiras vão poder me responder. Ou talvez as feridas. Mesmo assim...

Eu ainda não sei.

2 comentários:

  1. que lindo... pra variar tá ótimo!
    =S
    depois por favor me diga as mentiras que respondem a essas perguntas, eu não consigo arranjar mentiras plausiveis mais.
    eu até queria dizer alguma coisa para ajudar, mas... não sei o que falar
    feridas doem, curiosos cutucam, a gente mascara a dor, encontramos o motivo da ferida, a ferida abre, e nós tapamos com mentiras, é um ciclo.
    acho que se desistirmos das mentiras a ferida abre e fica maior e acho ainda que a dor vai ser insuportavel.
    por isso, acho que você deve mentir e se esconder enquanto dá. arranje outros problemas, se perca nos problemas dos outros, finja que os seus não existem. você esquece um pouco e quando volta a lidar com os seus problemas eles ficam quase sem sentido e o que sobra é esquecer definitivamente. acho que é assim que se lida. sei que é assim que eu lido, e por um tempo você vai conseguir ser imensamente feliz...
    bom, são mais besteiras, hahuahuhauhuhuahuuahua, porque te encher e pintar um mundo caindo é ótimo [ou não], ABSTRAIA!
    beijooo

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  2. a minha teoria é: dor ensina, e sofrimento também. e depois passa, mas as lições ficam. por mais conviniente que seja omitir reações e esconder sentimentos, isto nunca sana a sede. voce tem é que dar a cara a tapa, se culpar e se arrepender, porque só assim é que ficamos satisfeitos. porque só assim é que vivemos de verdade.

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