
Já não se fazem mais os pedidos de antes. As fotos agora são diferentes. As palavras perderam aquele sutil amargo que outrora preenchia nossas bocas. Os olhares, que indiscretamente se perdiam e encontravam e partiam sem se despedir, hoje pedem indiferença e ganham ingratidão.
Já não se fazem mais aquelas belas paixões, em que o mocinho salvava a donzela, e o vilão morria de ódio ou catapora. Os desejos, que em outros tempos eram azuis, cor de anil, rubro-negros e uma infinidade de cores, agora se acostumaram a serem neutros, transparentes... Qualquer coisa, menos alegres.
É, parece que a vida ficou mesmo meio sem graça.
Não que eu reclame, afinal, há vezes em que é preciso esquecer o convencional. Mas, venhamos e convenhamos: o convencional era delicioso. Fantástico. Brilhante. E, sem querer, foi entrando no passado, criando raízes na tradição, beirando a insanidade e se alimentando de falsa esperança. Com o tempo, ele se tornou obsoleto e hoje não passa de uma engrenagem velha, feita por velhos e ridicularizada por muitos.
Por isso, ele é tão assombrado. Mal amado.
E, o que me deixa ensandecido: Nem as grandes promessas sobreviveram. No mundo em que vivo, não mais prometemos mil beijos e amor eterno, ou fidelidade e sucesso. Esbarramo-nos e criamos atração. Já não há o compromisso do existencialismo poético.
E a poesia era tão linda!! Tão cheia de vida, de verdade e mentira, tão intensa que chegava a reluzir felicidade. Ela nos fazia bem, nos enchia de vontade, de “querer e bondade” que aos olhos dos mais secos, as lágrimas caiam em gotas leves, e os mais emotivos debruçavam-se em oceanos de sorrisos.
Pois sim, houve uma época em que tudo parecia diferente, todos possuíam face e o malvado sempre era pego em flagrante. O conto de fadas não era proibido, e sonhar cheirava doce como chocolate. Ah, confesso que sinto falta disso: desses tempos áureos em que vivi por poucos anos e aproveitei tardes e noites, e algumas poucas manhãs. De fato, foi lindo ver o que vi, bicho.
Woodstock, repressão, exílio, canções subversivas, os caras pintadas: o suor da guerra por princípios, por crepúsculos tranqüilos e auroras encantadas. A busca por amor, por ideal. Ou o próprio amor ideal, ou a idéia de amor, ou qualquer coisa relacionada. Talvez esteja ficando velho e me lamentando por não ter conquistado aquela garota que tanto quis.
Talvez seja a mudança de gerações, talvez seja a falta de humanidade que se encontra em frases românticas de alguns filmes hollywoodianos. Talvez seja a soma desses meus tiques e manias. Talvez não seja nada.
Somente o passado, mostrando-se impiedoso. Provavelmente é aquele impulso de viver o “antes”. O que já foi, já se tornou recordação...
Só sei de uma coisa...
Hoje, aquele que é pego: escapa, o que é acusado: mente, o que provoca dor: finge, o que pensa: não age, o que fala: morre, o que ama: perde, o que sorri: se esconde, o que grita: se cala, o que rebela: se acalma ...
E o que escreve: espera, incessantemente;
...espera, incansavelmente;
...espera; ansiosamente;
...espera; calorosamente;
...espera, tragicamente...
...que as coisas mudem...
E, quiçá, continuará esperando.